Rafael Amaral

O sistema nos derrotou mais uma vez

Rafael Amaral
Vereador em Pelotas pelo Progressistas, gestor hospitalar


Uma das frases mais famosas do cinema nacional foi eternizada pelo personagem Capitão Nascimento, interpretado pelo ator Wagner Moura, no filme Tropa de elite: "O sistema é F###, parceiro!". Infelizmente a ficção, em diversos momentos, se confunde com a realidade.

Alguns dias atrás recebi em meu gabinete, na Câmara de Vereadores, uma mãe aflita. Sua filha, de poucos dias de idade, nasceu com uma má formação e necessitava urgentemente ser transferida de Pelotas para Porto Alegre, pois aqui não havia capacidade técnica e estrutural para atender às necessidades desse caso. Nesse dia, começamos uma batalha intensa! Cobramos agilidade da Secretaria Municipal de Saúde, pressionamos a Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul, mas os dias foram passando e a pequena Larah continuou na cidade, sem receber o tratamento adequado.

Todos puderam acompanhar o caso pela imprensa, onde a mãe Dariane falou desesperada da luta que enfrentava há mais de 90 dias pelo direito de viver da sua filha! E o poder público continuou sem dar resolutividade.

Nesse momento, partimos para o Judiciário, conseguimos uma assessoria jurídica para a mãe da menina Larah, que solicitou judicialmente Tutela de Urgência com bloqueio judicial das contas do Município de Pelotas e do Estado do Rio Grande do Sul, para que um leito em instituição privada fosse comprado e oferecido para a criança.

Nesta terça-feira, dia 16, a Justiça determinou que a bebê fosse transferida de Pelotas para Porto Alegre no prazo de 24 horas, infelizmente tarde demais. Nessa quarta-feira, dia 17, o sistema nos derrotou mais uma vez, a burocracia e a incapacidade estatal mataram uma criança de 98 dias! E o que mais me revolta é que o sistema segue nos derrotando diariamente. Não apenas a Dariane, que teve a pessoa mais importante arrancada da sua vida, mas todos os pelotenses e gaúchos que sofrem todos os dias por não ter acesso ao direito à saúde garantido pela Constituição.

Hoje me sinto derrotado. E é por esse motivo que sigo lutando pela saúde. Enquanto os interesses forem supérfluos, nunca vamos derrotar o sistema. O que fica para nós, como sociedade, é a lição: se a saúde não funcionar, meus amigos, casos como esse vão seguir acontecendo e o que fica para essa mãe? A descrença na sociedade.

O sistema que deveria nos proteger vai seguir matando gente inocente por burocracia, incapacidade e incompetência. E por isso eu seguirei firme na defesa de um Sistema Único de Saúde de qualidade e que atenda a todos com agilidade e respeito.

Meus sentimentos a todos os familiares da menina Larah. Toda Pelotas e o Estado choram junto com vocês.

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